Débito x Crédito

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INTRODUÇÃO

Encontrei esta pérola questão navegando na net algum tempo atrás. Trata-se de uma dúvida elementar pela qual, acredito, todos passamos um dia. Para melhor entender por que ativo aumenta por débito e passivo aumenta por crédito, devemos superar o cerne do problema: afinal de contas, o que é débito e o que é crédito?

Na linguagem cotidiana, débito significa algo ruim, e crédito algo bom. O dicionário registra, dentre outros significados:

Débito: O que é devido; dívida. Por exemplo: eu tenho um débito contigo (devo algo a você).

Crédito: Direito de receber algo. Ex.: eu tenho um crédito contigo (você deve algo a mim).

Para confundir ainda mais as coisas, ainda há os extratos bancários, cuja ideia geral é a de que os saldos estão “positivos” quando são créditos, e “negativos”, quando débitos.

ETIMOLOGIA

Segundo o dicionário eletrônico Houaiss, a palavra débito advém do latim: debitum (dívida) correlacionando-se com debere (dever). Crédito também tem origem do latim: creditum (crença, confiança, empréstimo).

A origem dessas palavras explica a forma corriqueira como as utilizamos, mas os débitos e créditos contábeis, como ficam?

ÓTICA CONTÁBIL

As contas do ativo são devidas aos proprietários da empresa ou a terceiros. Quando os sócios decidem pela abertura do negócio, eles “emprestam” recursos (ativos) para a empresa, confiando em um possível retorno futuro, tornando-se, portanto, credores dela (representados no Patrimônio Líquido). De igual forma, ao decidir emprestar dinheiro à empresa, um banco acredita que será pago posteriormente, tornando-se credor (representado no Passivo). Os bens e direitos da empresa, logo, são, lá no fundo, frutos de uma “dívida” da empresa para com os sócios e o banco (capital próprio e capital de terceiros). Sendo assim, é compreensível que o ativo tenha natureza devedora, e o Passivo + PL, credora (considerando esta ideia de que as contas do ativo advêm na verdade de uma dívida para com os sócios e/ou terceiros).

Disto, podemos ainda concluir que:

1 – a FONTE (ou ORIGEM) de recursos é de natureza credora (capital próprio -> patrimônio líquido; e capital de terceiros -> passivo).

2 – o DESTINO (ou APLICAÇÃO) correspondente é de natureza devedora (bens e direitos -> ativo).

SIM, MAS POR QUE ATIVO AUMENTA POR DÉBITO E PASSIVO POR CRÉDITO, MESMO?

Imaginemos a seguinte transação: compra de um veículo à vista. Temos aqui um fato contábil permutativo, contabilizado mediante um crédito na conta Caixa (origem) e débito na conta Veículos (aplicação). O dinheiro que se encontrava “aplicado” na conta Caixa foi utilizado como fonte de recurso para a compra do veículo. O débito e o crédito indicaram de onde vieram e para onde foram os recursos movimentados na operação (de caixa/fonte->crédito para veículo/destino->débito), mas isto não significa necessariamente que houve um aumento ou diminuição do ativo. Repare que após esta transação o valor total do ativo permanece o mesmo. A conta Caixa diminuiu seu saldo através de um crédito por conta de sua natureza devedora, e a conta Veículo aumentou seu saldo através de um débito pelo mesmo motivo.

Para aumentar um saldo devedor (natureza das contas do Ativo), deve-se debitá-lo; para diminuí-lo, deve-se creditá-lo.

Para aumentar um saldo credor (natureza das contas do Passivo e PL), deve-se creditá-lo; para diminuí-lo, deve-se debitá-lo.

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Resumo do que foi dito acima, com adição dos grupos de despesa e receita.

OS DÉBITOS E OS CRÉDITOS BANCÁRIOS

A solução para a confusão causada pelos débitos e créditos dos extratos bancários é mais simples do que parece. Basta entender que tais extratos são feitos sob a perspectiva contábil do banco, não minha ou sua.

Quando depositamos dinheiro em determinada instituição bancária, isto gera uma obrigação dela para conosco. Nossas contas-correntes figuram no Passivo da instituição, e como sua natureza é credora, ao olharmos o nosso extrato enxergamos que o dinheiro deixado no banco é um crédito. Mas este crédito não representa nosso ativo, e sim o saldo de uma conta passiva do banco! Ao deixarmos o dinheiro nele, confiamos que podemos haver os respectivos valores quando quisermos. Somos seus credores, e ele nosso devedor. Temos um crédito com ele, e ele um débito conosco.

Quando utilizamos o cartão de débito, este nomezinho que aparece no comprovante da transação significa que a obrigação que o banco tinha conosco foi diminuída, ou seja, foi realizado um débito em uma conta do Passivo do banco.

CONCLUSÃO

É errôneo associar débito a “mai$ dindin” e crédito a “meno$ dindin”. É importante frisar que débito corresponde à aplicação de recursos, e crédito à origem. O aumento do ativo e do passivo por débito e crédito se dá em razão da natureza de cada grupo de contas, devedora e credora respectivamente. E isto não é uma fórmula! Perceba que é algo intuitivo. Analisemos rapidamente a seguinte situação: compra de mercadorias a prazo. Para sabermos o que debitar ou creditar, basta nos questionarmos: qual a fonte/crédito dos recursos (caixa, banco, fornecedores)? E qual o destino/débito (estoque)? Saber de onde veio a “bufunfa” e para onde ela vai é uma necessidade vital para os negócios. Por isso que o método das partidas dobradas, apesar de simples, é funcional (premissa básica de que total de débitos = total de créditos).

2 respostas em “Débito x Crédito

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